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Sebastião Salgado


O índio como personagem da Gênesis e do Êxodos



</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Capa do livro Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Yanomami, 1998</br> In Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Esquerda: Marubo, 1998</br> Direita: Yanomami, 1998</br> In Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Yanomami, 1998</br> In Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Marubo, 1998</br> In Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Esq: Yanomami, 1998</br> Direita: Marubo1998</br> In Êxodos (Cia das Letras, 2000)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Capa do livro Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Índios Zo’é, 2009</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Índios Zo’é, 2009</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Índios Zo’é, 2009</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Índios Zo’é, 2009</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Índios Zo’é, 2009</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Mosaico à esquerda: Quarup, 2005</br> Direita: Atleta Kamayura, 2005</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Esquerda: Jovem Kamayura, 2005</br> Mosaico à direita: Amuricumã, 2005</br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Xamãs Kamayura, 2005 </br> In Genesis (Taschen, 2013)</br> </br> SEBASTIÃO SALGADO</br> Esquerda: Chefe Kuikuro, 2005</br> Direita: Jovem Kamayura, 2005</br> In Genesis (Taschen, 2013)

Um dos fotógrafos mais populares da atualidade, Sebastião Salgado adquiriu notoriedade internacional pela enorme extensão de seus projetos documentais. Doutor em economia, Salgado decidiu abandonar sua antiga profissão para se dedicar exclusivamente à fotografia. Depois de passar pelas agências de fotojornalismo Sygma e Gamma, fez parte da mítica agência Magnum, fundada por Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, George Rodger e David “Chim” Seymour.

Com o passar dos anos, Salgado realizou centenas de exposições individuais ao redor do mundo e acumulou dezenas de prêmios nacionais e internacionais. Em 1994, ele e sua esposa Lélia Wanick fundaram a agência Amazonas Images, através da qual viabilizam seus trabalhos e difundem suas imagens.

Cada um dos seus projetos fotográficos (Outras Américas, Terra, Trabalhadores, Êxodos) levaram anos para serem realizados. Todos eles envolvem questões sociais, econômicas, políticas – e, mais recentemente, ambientais (Gênesis) – numa abordagem permeada pelo olhar clássico, humanista e engajado do autor. Em Exôdos, realizado entre os anos de 1994 e 1999, Salgado retrata o fluxo de populações ao redor do mundo nos mais diversos contextos de guerra, pobreza ou violência. Neste trabalho estão inclusos os índios Yanomami de Roraima e os Marubo do vale do Javari (Amazonas):

No outro extremo do Brasil, no âmago da Amazônia, na década de 80 os índios Ianomâmi continuavam relativamente intocados pelo mundo exterior. Quando voltei, em 1998, seu habitat fora degradado pela incursões de mineradoras de ouro, diamante e cassiterita, responsáveis pelo envenenamento dos rios com mercúrio e pela deterioração da terra com detritos industriais. Os próprios Ianomâmis estavam sendo empurrados para a assimilação. (SALGADO, 2000, p. 10)

As dez imagens apresentadas no livro Êxodos (2000) sugerem, de forma bastante sutil, algumas interferências e transformações culturais decorrentes do crescente contato dos índios com o mundo ocidental, como por exemplo o uso de roupas ou de objetos de plástico. Outros detalhes são perceptíveis apenas quando lemos as legendas das imagens.

Já o projeto Gênesis (2013), produzido ao longo de oito anos e 32 viagens, marca a introdução da temática predominantemente ambiental na obra do autor. São fotografias de paisagens e da vida selvagem ainda intocadas pelo homem, sugerindo à nossa imaginação, segundo o fotógrafo, uma viagem ao passado. Neste contexto, a figura do ser humano também aparece, na forma de povos e culturas tradicionais que ainda mantém vivos seus mais antigos costumes:

Meu objetivo era o de retratar esses povos o mais próximo possível do seu estilo de vida ancestral. Alguns se vestem com roupas de segunda mão distribuídas por grupos evangélicos, mas eu queria mostrar os trajes cerimoniais e os costumes tribais de que eles mais se orgulham e de que, dentro de algumas décadas, poderão apenas restar as fotografias. Cedo ou tarde, o mundo moderno irá atingi-los – ou serão ele que irão procurá-lo. Eu quis captar um mundo que está desaparecendo, uma parte da humanidade que está prestes a acabar, mas que, no entanto, ainda vive, de muitas maneiras, em harmonia com a natureza. (SALGADO, 2013, p.8)

Esta abordagem sugere um paralelo – guardadas as devidas proporções – com a proposta de alguns expedicionários e etnógrafos do fim do século XIX e início do XX, para quem o registro fotográfico era um recurso “salvacionista” para a preservação de culturas notadamente ameaçadas de extinção.

Salgado mostra os índios Zo’é, que habitam o norte do Pará, em cenas do cotidiano – caça, pesca, alimentação e descanso. Há também retratos posados de índios ornamentados com folhas de palmeiras ao fundo, que nos remetem ao ambiente dos estúdios fotográficos do século XIX. O mesmo ocorre com os índios Kamaiurá, que habitam o Parque Indígena do Xingu.

Em agosto de 2013 o jornal O Globo publicou uma reportagem feita por Salgado em conjunto com a repórter Miriam Leitão, retratando o drama vivido pelos índios da etnia Awá, também conhecidos como Guajá. Habitam as regiões remanescentes da floresta amazônica no Estado do Maranhão, e são constantemente ameaçados pela invasão de madeireiros e grileiros. São um dos últimos povos indígenas coletores-caçadores, e por isso evitam ao máximo o contato com o homem branco.

As imagens desta reportagem seguem a mesma linha descritiva dos trabalhos anteriores e documentam a delicada situação vivida por seus protagonistas, que falam sobre a escolha de permanecer vivendo na floresta à maneira de seus ancestrais. Segundo o autor,

A nossa vontade é que a nossa reportagem seja o início de um movimento para provocar a desintrusão da terra Awá. […] Ali dentro vivem ainda três grupos de índios Awá que nunca foram contatados. Vivem ainda na pré-história, pressionados por um mundo hipermoderno de fazendas, de caminhonetes, de tratores, de telefones… Isso que eu acho a coisa mais fabulosa no Brasil – a Amazônia brasileira possui mais de cem grupos [indígenas] isolados que ainda não foram contatados e que [por isso] nós temos uma obrigação imensa de preservar esse território. (entrevista concedida ao programa Roda Viva – 16/09/2013)

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LIVROS PUBLICADOS

– 1986 (França) e 1999 (Brasil): Outras Américas (Cia das Letras)
– 1990: An Uncertain Grace (Aperture, EU)
– 1992: The Best Photos / As melhores fotos (Boccato Editores)
– 1993: Photo Poche nº 55 (Centre National de la Photographie, França)
– 1993 (EUA) e 1996 (Brasil): Trabalhadores (Cia das Letras)
– 1997: Terra (Cia das Letras)
– 1999: Um fotógrafo em Abril (Ed. Caminho, Portugal)
– 1999: Serra Pelada (Ed. Nathan, França)
– 2000: Êxodos (Cia das Letras)
– 2000: Retratos de crianças do Êxodo (Cia das Letras)
– 2003: O fim da pólio (Cia das Letras)
– 2005: L’Homme de l’eau (Ed. Terre Bleue, França)
– 2007: África (Taschen)
– 2013: Gênesis (Taschen)

REFERÊNCIAS

– “Paraíso sitiado: A luta dos ‘índios invisíveis’”. Jornal O Globo, Caderno País, 04/08/2013

WEBGRAFIA

– Amazonas Images (acesso aqui)
Revelando Sebastião Salgado. Documentário. Direção: Betse de Paula. Produção: Aurora Cinematográfica, Rio Filme e Canal Brasil. 2013, 75 min, cor
– Roda Viva – Sebastião Salgado. Entrevista, 1h30min. Tv Cultura, 16/09/2013 (acesso aqui)

ACERVO DE ORIGINAIS

– Amazonas Images