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Rogério Assis
As primeiras imagens dos Zo'é
Nascido em Belém-PA, Rogério Assis começou a trabalhar como fotógrafo em 1988 para uma produtora de vídeo local que atendia à Funai e ao Museu Emílio Goeldi. Até onde se sabe, foi o primeiro fotógrafo a registrar os Zo’é – povo de língua tupi que habita o noroeste do Pará, ao longo dos rios Cuminapanema, Erepecuru e Urucuriana
Os Zo’é foram contatados primeiramente no século XIX, e mantiveram relações muito esparsas com os Kirahi – como eles denominam os não índios – até a década de 1980. Em 1982, missionários da Missão Novas Tribos do Brasil (parte da New Tribes Mission americana) travaram contato com eles de forma independente, sem autorização do governo brasileiro. Doenças infecciosas trazidas pelos próprios missionários desencadearam um grande número de mortes, o que os levou a solicitar socorro à Funai alguns anos depois.
Em 1989, Rogério se encontrava em Belém, preparando-se para gravar um vídeo institucional com o coronel Cantídio Guimarães, então presidente da Funai. Um telefonema de Brasília avisou-lhes sobre uma viagem de socorro a ser realizada imediatamente até os Zo’é, o que seria o primeiro contato oficial da Funai com esta etnia. Embarcaram em um bimotor até Santarém, e de lá seguiram de helicóptero até uma das aldeias, onde Rogério pôde testemunhar este contato durante 4 horas, munido de apenas 4 rolos de filme Tri-X.
Em 1990, a Funai implementou o Sistema de Proteção aos Índios Isolados, procedendo à retirada dos missionários da área e estimulando práticas de gestão do território de acordo com as formas tradicionais de ocupação. A Frente Etnoambiental Cuminapanema, criada em 2001, estabeleceu toda uma estrutura de assistência aos Zo’é, visando à proteção do isolamento do grupo em prol de sua integridade física e cultural.
Segundo o autor,
Depois de 1989 eu tentei voltar várias vezes nos Zo’é, mas nenhum jornal ou revista se interessou pelo assunto. Em 2008 eu comecei a editar a revista Pororoca, dedicada à Amazônia. Aí eu procurei o Márcio Meira, que era o presidente da Funai na época, e levei até ele a minha idéia de produzir um novo material, com a intenção de fazer uma matéria para a revista e um livro. Depois de resolver toda as questões burocráticas e de tomar todas as vacinas necessárias, finalmente pude seguir viagem. Inicialmente, passei uma semana entre os índios. Como eu estava fazendo tudo em filme, voltei para São Paulo para revelar o primeiro lote e avaliar o material. Logo em seguida embarquei para mais uma viagem de duas semanas. Toda a expedição foi por minha conta – foi um investimento pessoal.
O livro Zo’é, lançado recentemente, deveria ter saído em 2009, mas o patrocinador de então desistiu na última hora. Por causa disso, eu segurei o material e fui atrás das leis de incentivo à cultura. Fiquei 3 anos procurando um patrocinador, e não o encontrei. Finalmente, a Editora Terceiro Nome aceitou bancar a publicação.*
Segundo a curadora Rosely Nakagawa,
O artista que se dedica ao estar e ser em outra cultura, como o faz Rogério Assis com os Zo’é, deve compreender o ócio como dinâmica. Se entregar à necessidade de observação do ritmo da vida que passa de forma integrada à natureza, antes de abordá-la, interrompendo esse fluxo. Estar na aldeia entre homens e mulheres de todas as idades, tomar banho de rio, pescar, caçar, deitar na rede e esperar a chuva e o anoitecer. Suas imagens são resultantes desse tempo que passa sob sua observação, não apenas como espectador da luz exata, das ações e desdobramentos sutis do cotidiano que somente são possíveis sem a pressa ou a expectativa desenhadas num roteiro predeterminado. As imagens de Rogério Assis revelam esse modo de ser em sua plenitude, e com elas aprendemos um pouco mais sobre o que esquecemos com o passar do tempo, vivendo aceleradamente, sem direito à preguiça. Percebemos nestas imagens uma postura sutil e delicada de se deixar desaparecer entre os outros para se tornar um deles. (in Assis, 2013)
Em 1989, Rogério se mudou para São Paulo, quando começou a colaborar com a Agência Angular. Na década de 1990, trabalhou para a Agência Estado e para a Folha de S.Paulo, e colaborou também com diversos outros meios nacionais e estrangeiros. Em 2000, participou da criação do Fotosite e, em 2008, da revista Pororoca. Hoje, trabalha como editor executivo da Editora Mandioca, e colabora com o Instituto Socioambiental (ISA).
Nos anos 90, os Zo’é foram documentados pela antropóloga Dominique Gallois e, nos anos 2010, por Sebastião Salgado, para o projeto Gênesis.
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REFERÊNCIAS
– Entrevista com o autor – 08/11/2013
– ASSIS, Rogério. Zo’é. São Paulo: Terceiro Nome, 2013
WEBGRAFIA
– Página pessoal: www.rogerioassis.com
ACERVO
– Acervo do Autor