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Felipe A. Fidanza


O índio nas 'cartes-de-visite'



Não existem registros sobre a chegada de Felipe Augusto Fidanza a Belém, tampouco sobre sua vida pessoal e profissional anterior à sua chegada ao Brasil. Nascido em Lisboa por volta de 1847, Fidanza foi um dos maiores fotógrafos da Belém do Pará do século XIX, destacando-se profissionalmente não só pelos seus retratos, mas também pelas paisagens e documentações sobre o incipiente desenvolvimento urbano da capital paraense.

Seu primeiro trabalho profissional de destaque em âmbito nacional foi o registro dos preparativos para a recepção da comitiva de D. Pedro II, que foi ao Pará para as solenidades da Abertura dos Portos da Amazônia ao comércio exterior. Pela ampla divulgação deste trabalho, equivocadamente atribuiu-se a chegada de Fidanza a Belém junto com a comitiva do imperador. Porém, pesquisas recentes (PEREIRA; SARGES, 2011) relatam notícias de um jornal local que registram a existência do estabelecimento fotográfico Fidanza & Com desde o dia 1º de janeiro de 1867, atestando que o ateliê já estava em funcionamento há pelo menos nove meses antes da chegada da comitiva real.

Nos primeiros anos do século XX, sua grande coleção de imagens de paisagens urbanas adquiriram grande notoriedade pela qualidade técnica, sendo divulgadas principalmente por álbuns encomendados pelas administrações estaduais do Pará e Amazonas.

Fidanza se suicidou pulando do convés de um navio em uma viagem de retorno da Europa ao Brasil. O estúdio Photographia Fidanza foi leiloado por sua viúva cinco meses após sua morte, passando ao longo dos anos por diversos proprietários, entre eles os sócios George Huebner e Libânio do Amaral. Mesmo com a morte de seu fundador, o nome Fidanza permaneceu como uma marca relacionada à produção de fotografia até 1969.

Fidanza fotografou pessoas de diferentes grupos sociais em seu estúdio, entre negros, caboclos e índios, para serem vendidos em formato de carte de visite, (2006, p.73). No acervo do Instituto Moreira Salles constam três retratos de indígenas neste formato, feitos por Fidanza por volta de 1873: um homem usando cocar, tanga e ornamentos feitos com penas, empunhando flechas sobre um fundo arranjado com folhas e galhos, e uma mulher usando exatamente os mesmo adereços. Os uso destes adereços por Fidanza “caracteriza um ato premeditado do fotógrafo em montar um perfil exótico para ser vendido”, segundo a historiadora Maria Cláudia Pereira (2006, p. 73). Além destes, há também o retrato de uma criança usando um vestido, sentada sobre um caixote com uma cuia e uma colher na mão, como se estivesse se alimentando.

Nas legendas da coleção à qual pertencem, os retratos do homem e da mulher constam identificados apenas como índios do rio Negro, sem referências às suas etnias de origem.

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REFERÊNCIAS

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002

PEREIRA, Rosa Cláudia Cerqueira. Paisagens urbanas: fotografias e modernidades na cidade de Belém (1846-1908). Dissertação (Mestrado em História) – PPGH/UFPA, 2006

PEREIRA, Rosa Cláudia Cerqueira; SARGES, Maria de Nazaré. “Photografia Fidanza: um foco sobre Belém (XIX/XX)”. In: Revista Estudos Amazônicos. Belém: PPGHSA, UFPA, v. VI, no. 2., p. 01-31, 2011

ACERVO

– Instituto Moreira Salles
– Leibniz Institut fur Laenderkul