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Mario Baldi


Pioneiro do fotojornalismo moderno no Brasil



O fotógrafo Mario Baldi nasceu em 1896 em Salzburg (Áustria) e atuou no Brasil em dois períodos: 1921-1928 e 1934-1957. Filho de uma família da burguesia comercial austríaca, Baldi participou como voluntário na Primeira Guerra Mundial, ao lado do exército austro-húngaro, trabalhando como reconhecedor de campo. Em seu diário podemos encontrar fotografias aéreas que mapeavam as áreas percorridas pelas tropas inimigas. Com o fim da guerra e a situação crítica da região germânica, emigrou para o Brasil em 1921.

Até 1925, Baldi percorreu o Estado do Rio de Janeiro e escreveu vários artigos sobre vida do gentio local, no formato de relatos de viagem, que foram publicados no jornal da sua cidade natal, o Salzburger Volksblatt. Neste período, a fotografia que produziu foi itinerante, com foco na alteridade étnica, na arquitetura colonial brasileira e nas paisagens naturais. Entretanto, comparando a quantidade de relatos com as fotografias ainda preservadas, aparentemente, nesta fase, Baldi escreveu mais do que fotografou.

O primeiro projeto fotográfico de Mario Baldi foi realizado sob o patronato de D. Pedro de Orleans e Bragança, neto de D. Pedro II, entre 1925 e 1928. Baldi conheceu D. Pedro em Petrópolis, durante uma das suas viagens pelo interior do Rio de Janeiro, quando o príncipe estava à procura de um secretário e um fotógrafo que o acompanhasse em suas viagens. Neste encontro fortuito, descobriram várias coisas em comum. D. Pedro ia anualmente a Salzburg para o festival de música, teatro e ópera e falava bem alemão. A família Baldi era bem relacionada na Europa e, depois de uma carta de recomendação enviada pela Grã Duquesa da Toscana a D. Pedro, Baldi tornou-se “confidente” do príncipe. Assim, percorreu vários Estados brasileiros, documentando as viagens e as caçadas da família real.

Em 1928, D. Pedro mudou-se para a Europa, sendo acompanhado por Baldi. Nos seis anos seguintes, divulgou seu trabalho em revistas ilustradas e palestras enriquecidas com projeções de diapositivos. Em 1934, foi chamado pela Missão Salesiana no Brasil para produzir um filme sobre as colônias religiosas dos padres entre os índios Bororo. Este foi seu primeiro trabalho específico com povos indígenas. O filme foi perdido, mas dessa viagem ainda restam valiosas fotografias.

<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Folha de contato, c.1934-1935<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Folha de contato, c.1934-1935<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Folha de contato, c.1934-1935<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Folha de contato, c.1934-1935<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Uma índia centenária Bororo, 1935<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Um velho Bororo de Meruri. Traz um ornato de folha de palmeira babaçu, 1934<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Meninas Bororo usando pilão, 1934<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Missionário com crianças, 1934<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Crianças Bororo jogando damas, 1934<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Dança fúnebre, 1934-1935 <br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Ao final da dança, um banquete é servido, 1934-1935<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Danças fúnebre, 1936<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Índio Bororo, 1936<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Vila Bororo, 1934<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Freira e crianças Bororo, 1934<br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Tipos indígenas Bororo, 1934 <br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Tipo indígena Bororo, 1934 <br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Tipo indígena Bororo, 1934 <br/> Meruri, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Dois índios Bororo. Um deles possui uma coroa de folhas de babaçu, 1934-1935<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Duas meninas Bororo, 1934-1935<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Uma menina Bororo com pintura no rosto, 1934-1935<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Tiro a flecha, 1934-1935<br/> Jarudori, MT<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)

Ao contratar Baldi, a intenção dos salesianos era produzir um filme de propaganda que enfatizasse os benefícios de sua atuação no processo de mudança cultural dos Bororo. Cabe ressaltar a discrepância entre o foco adotado por Baldi, mais voltado ao processo de aculturação, àquele adotado por Claude Lévi-Strauss, que esteve na região na mesma época, optando por realizar seu trabalho de campo nas aldeias mais afastadas para testemunhar traços culturais que estivessem mais preservados.

Em meados dos anos 1930, Mario Baldi já havia produzido material suficiente para buscar seu lugar no fotojornalismo brasileiro, que dava importantes passos de modernização. Publicando suas reportagens na revista A Noite Illustrada, foi pioneiro no quesito “crédito fotográfico” e na criação de uma agência de fotógrafos de imprensa, a Yurumí, juntamente com o alemão Harald Schultz, que mais tarde viria a ser um dos principais fotógrafos do Serviço de Proteção aos Índios.

Esta agência usava como símbolo um tamanduá bandeira (Yurumí, em espanhol), animal característico das selvas tropicais, e se apresentava como “Brazilian Press-Photo”, com o objetivo de estabelecer contato com revistas estrangeiras e outras agências internacionais.

Por meio desta agência, Baldi e Schultz produziram crônicas que foram publicadas tanto em revistas brasileiras, como A Noite Illustrada, como estrangeiras, como a alemã Die Neue Gartenlaube. Entretanto, a Yurumí rapidamente deixou de existir.

Em 1936, Baldi voltou a acompanhar o príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, fazendo contato com os índios Bororo e Carajá. Produziu fotografias das danças, rituais, cultura material e cotidiano dos índios, sem deixar de lado o traço de cobertura jornalística. Nessa época, o fotógrafo iniciou sua carreira no jornal A Noite, contribuindo para o suplemento A Noite Illustrada.

Esta revista, ainda pouco estudada, teve um papel importante para o desenvolvimento do fotojornalismo e da imprensa ilustrada no Rio de Janeiro. Tendo surgido em 1930 para concorrer com O Cruzeiro (que surgira em 1928), era publicada semanalmente em rotogravura e começou, aos poucos, a creditar aos fotógrafos a autoria das imagens, como foi o caso de Baldi. A revista patrocinava concursos de fotografia e investia em temas do cotidiano carioca, além do noticiário político e “flagrantes” da elite carioca. Em A Noite Illustrada podem-se ver as sementes do fotojornalismo moderno, que viria a marcar O Cruzeiro nos seus tempos áureos, a partir de 1940.

Em 1938, Baldi voltou à terra dos Carajá, tendo sido enviado pela A Noite Illustrada para cobrir a filmagem da cineasta Doralice Avellar. Nesse ensaio é notória a escolha por uma perspectiva de “making of” em várias fotografias.

<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> [Folha de Contato], 1938<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> [Folha de Contato], 1938<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> [Folha de Contato], 1938<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> [Folha de Contato], 1938<br/> Acervo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936 <br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Tipo Carajá, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá [com D.Pedro de Orleans e Bragança], 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Cemitério indígena na Ilha do Bananal, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria) <br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936<br/> Ilha do Bananal, TO<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1936<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Menino Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> A cineasta Doralice Avelar na aldeia dos Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> A cineasta Doralice Avelar na aldeia dos Carajá, 1938 <br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Crianças Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Crianças Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)<br/> <br/> MARIO BALDI<br/> Crianças Carajá, 1938<br/> Acervo Weltmuseum Wien (Áustria)

Durante os anos de 1940, Baldi continuou vinculado à imprensa e trabalhou cobrindo as atividades do SPI e a abertura de pistas de pouso, com a Força Aérea Brasileria. Teve contato, por exemplo, com os Tapirapé e Kalapalos e trabalhou com os irmãos Villas Bôas e Chico Meirelles.

Ao longo da sua trajetória, Baldi fez fotografias de todos os tipos, dentre as quais as imagens dos povos indígenas brasileiros têm um valor inestimável. Nos seus últimos anos de vida, voltou a atuar como freelancer. Ele e sua segunda esposa, Ruth Baldi, faleceram no mesmo dia, durante sua última viagem, em 1957. Ela, devido a uma picada de cobra. Ele, horas depois, por um infarto. Foram sepultados numa aldeia dos Tapirapé.

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REFERÊNCIAS

– BALDI, Mario. Uoni-Uoni conta a sua história. São Paulo: Melhoramentos, s/d

– LOPES, Marcos Felipe de Brum & FEEST, Christian. Mario Baldi: fotógrafo austríaco entre índios brasileiros. Rio de Janeiro: F.Dumas História e Ciências Sociais, 2009

– LOPES, Marcos Felipe de Brum. Mario Baldi: Experiências fotográficas e a trajetória do “repórter perfeito (1896-1957)”. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, UFF: 2010 (disponível aqui)

– WOLF, Sabine. “Mario Baldis Fotografien der Carajá. Ein Österreicher bei den Indigenen Brasiliens – Betrachtung und Vergleich einer fotografischen Sammlung des Museum für Völkerkunde Wien”. Magistra der Philosophie (Mag. phil.). Wien: Universität Wien, 2009.

– WEINKAMER, Kurt. “Mario Baldi – Das aberteuerliche Leben eines Salzburgers in Brasilien”. Salzburg: Mitteilungen der Gesellschaft für Salzburger Landeskunde, 2009.

ACERVO

– Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Teresópolis: cerca de 7.000 folhas de contato e ampliações
– Weltmuseum Wien (Viena, Áustria): cerca de 10.000 fotogramas