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José Medeiros


O olhar humanista do “poeta da luz”



<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Vista aérea de aldeia indígena, c.1950<br/> Parque Indígena do Xingu, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Ritual de dança da tribo caiapó kuben-kran-ken, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Juruna, 1949<br/> Parque Indígena do Xingu, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante, 1969<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Caiapó, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índios Calapalo, 1949<br/> Mato Grosso<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Crianças Caiapó, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índios Caiapó, aldeia Gorotire, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Mulheres Xavante, c.1950<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Iaualapiti, 1949<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Iaualapiti, 1949<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índios caiapós kuben-kran-ken, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante, 1952<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante, 1949<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante, 1949<br/> Vale do rio Batovi, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Caiapó, 1957<br/> Pará<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante, 1949<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Legenda não identificada, s/d<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Cacique Apoenan e o Brigadeiro Raymundo Aboim, 1950<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Xavante sendo examinado pelo Brigadeiro Raymundo Aboim e outro integrante da Expedição Roncador-Xingu, 1950<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índios na redação da revista O Cruzeiro, s/d<br/> Rio de Janeiro<br/> Acervo Instituto Moreira Salles <br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Sapaim, c.1957<br/> Rio de Janeiro<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índio Sapaim, c.1957<br/> Rio de Janeiro<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> JOSÉ MEDEIROS<br/> Índia tratando dente, s/d<br/> Acervo Instituto Moreira Salles<br/> <br/> AUTOR NÃO IDENTIFICADO<br/> José Medeiros com índio Xavante, s/d<br/> Serra do Roncador, MT<br/> Acervo Instituto Moreira Salles

A revista O Cruzeiro reuniu uma equipe que se tornou referência de uma nova narratividade fotográfica no Brasil. Deste grupo destaca-se José Medeiros – “o poeta da luz”, nas palavras de Jean Mazon.

Nascido em 1921, em Teresina, Piauí, José Medeiros foi, ao lado e Manzon, um dos precursores do fotojornalismo moderno no Brasil. Aos 25 anos, já com trabalhos realizados para revistas da época como Tabu, Rio e Sombra, foi convidado por Mazon para integrar a equipe d’O Cruzeiro, onde permaneceu por cerca de 15 anos.

Ao longo de sua estadia na revista publicou uma série de fotorreportagens sobre os setores mais deficitários da sociedade. Queira revelar as injustiças sociais e trazer à consciência do público realidades menos conhecidas. Segundo o próprio autor,

(…) a fotografia tem, aliás, como tudo, uma função política. A fotografia não conta necessariamente o real, pelo contrário ela pode mentir pra burro. A pessoa por traz da câmera pode mostrar o que quiser, como quiser. Eu por exemplo, para não defender interesses do patrão, do governo, saía pela tangente fazendo reportagens sobre negros e índios. (Medeiros,1986:17)

Em 1949, Medeiros participou da Expedição Roncador–Xingu, tema de uma reportagem da revista americana Time, na qual aparece uma foto de José Medeiros com dois indígenas. Na segunda etapa da expedição presenciou o primeiro contato oficial com os Xavante. A questão indígena se tornou então bastante recorrente em sua obra, sempre acompanhado pelos textos do seu parceiro Arlindo Silva.

Uma das fotorreportagens de destaque da dupla encontra-se na edição de 7 de junho de 1952, intitulada: “Homens Brancos na Aldeia dos Caiapós”. A matéria é composta por 26 fotografias preto-e-branco: retratos, cenas do dia-a-dia, rituais, cultura material, revelando também a apropriação pelos índios das armas dos “brancos”. Com teor sensacionalista, o texto narra a “Guerra aberta entre os cristãos e os silvícolas” (O Cruzeiro, p.13), imbuído de uma ideologia integracionista coerente com a linha editorial da revista.

Curiosamente, a reportagem é precedida por uma carta assinada pelo General Rondon, José Maria (então diretor do SPI), Orlando Villas Bôas e Darcy Ribeiro, todos louvando a iniciativa dos “bravos jornalistas”:

Essa reportagem é mais que um grande feito jornalístico. É a primeira documentação autêntica e viva sobre os índios caiapós, e, bem assim, uma valiosa contribuição à etnologia brasileira. (O Cruzeiro, 1952)

Ao lado de Jean Manzon, José Medeiros foi um dos fotógrafos d’O Cruzeiro que se “especializou” em reportagens sobre populações indígenas. Todavia, diferiam em termos de abordagem:

Enquanto Manzon produz imagens de caráter épico que, em grande medida, reencenam a descoberta do Brasil, José Medeiros lança sobre o índio um olhar quase sempre carregado de empatia. (Burgi e Costa, 2012:42)

Medeiros preferia utilizar a luz ambiente e buscava situações naturais e espontâneas, sem simulações. Introduziuas câmeras Leica de formato 35mm na redação d’O Cruzeiro.

No dia 15 de setembro de 1951, a revista publicou a polêmica reportagem “As Noivas dos Deuses Sanguinários” em resposta à matéria sobre o candomblé intitulada “Les Possédées de Bahia”, da revista francesa Paris Match, de maio de 1951. A fotorreportagem de José Medeiros e Arlindo Silva acompanhou as etapas do ritual de iniciação de três Iaôs, desde a sua reclusão até a festa de saída, imagens captadas em um ambiente permitido somente para iniciados. Segundo Tacca (2003), a matéria brasileira também foi considerada ofensiva à religião, em função do tom sensacionalista adotado pela revista.

Seis anos após a publicação desta fotorreportagem, a mesma editora da revista publicou o livro Candomblé, em 1957 (reeditado pelo Instituto Moreira Salles em 2009), com todas as imagens veiculadas naquela matéria, acrescidas de outras 22 fotografias. O livro colocou as mesmas fotos em outro formato e com outra narrativa, passando a ser considerado um “material etnográfico precioso e único” (Tacca, 2003:157).

Para a jornalista Ranielle Moura, as imagens de José Medeiros ultrapassam a mera função ilustrativa, pois disputavam o espaço de protagonistas com a palavra escrita, dentro da proposta narrativa que as fotorreportagens modernas traziam para o jornalismo brasileiro. Através de suas imagens, promoveu uma mediação “entre o processo histórico e as demandas sociais. Uma complexa narrativa histórica dos fatos e acontecimentos, que ao mesmo tempo materializava em imagens os anseios e expectativas de um projeto social de integração nacional, iniciado no governo de Getúlio [Vargas]” (Moura, 2009:10).

Em 1962, ao sair d’O Cruzeiro, Medeiros fundou a agência Image, com Flávio Damm e Yedo Mendonça. Em 1965 começou a trabalhar como diretor de fotografia cinematográfica, sendo responsável por filmes como A Falecida, de Leon Hirszman, e Xica da Silva, de Cacá Diegues.

Em 1986 foi homenageado pela Funarte com uma exposição e a publicação de um catálogo com imagens da sua trajetória, intitulado José Medeiros – 50 anos de fotografia (FUNARTE, 1986). Ministrou aulas de cinema em Cuba no final dos anos oitenta e faleceu em Áquila, na Itália, em 1990. Seu acervo, composto por 20 mil fotogramas, foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles em 2005.

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REFERÊNCIAS

O Cruzeiro. Ano XXIV, nº 34. 7 de junho de 1952

BURGI, Sérgio e COSTA, Helouise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012

MEDEIROS, José. Candomblé. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2009

MEDEIROS, José. José Medeiros – 50 anos de Fotografia.Rio de Janeiro: FUNARTE,1986

MOURA, Ranielle Leal. “José Medeiros e o fotojornalismo na Revista O Cruzeiro”. 14º Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional (REGIOCOM), 2009

TACCA, Fernando de. “O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio”. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011 (disponível aqui)

ACERVO

– Instituto Moreira Salles