Fotógrafos < ver todos


Jean Manzon




<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Capa do livro “Flagrantes do Brasil”. Rio de Janeiro: Gráficos Bloch, 1950<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda da imagem à esquerda: “Índios, brancos e negros – três raças fortes – construíram quatro séculos de história brasileira. Irmanados enfrentaram as florestas, ergueram cidades, irmanados vêm lutando...”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda da imagem à esquerda: “Ao fundo, o Rio das Mortes, a Serra do Roncador, o domínio dos xavantes, um convite à aventura... Alguns, antes, haviam pago com a vida a aceitação do convite. Mas novos Bandeirantes se aproximavam”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural <br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “E pela primeira vez na história uma aldeia xavante é fotografada. De avião, naturalmente.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “Fica a 800 quilômetros o ponto mais próximo onde o branco pisou. E de arcos para os céus os xavantes pretendem conservar à distância a gigantesca ave que projeta sôbre êles uma sombra que consideram fatídica.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural <br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda à direita: “Mas a ave se aproxima. E fixa bem o perfil das malocas, descobre a sua estranha maneira de guardar os alimentos ao ar livre, sôbre armações de madeira e de fôlhas.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legendas: “E a acolhida aos forasteiros é às vezes cordial. O avião é recebido em festas. É que os galapalos são de boa paz. Assina-se o tratado de paz com uma troca de armas...”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legendas: “Ainda assim, temeroso da curiosidade dos índios, o mecânico arma sua rede de motor a motor, pronto para qualquer surpresa. Mas bem se vê que eles são realmente bem menos de temer que muito branco.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “Ainda são do descanso bom na rede amiga ... da vida descuidada e sem recalques ... que a vida é sem complicações e o alimento está perto.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda à esquerda: “Os homens são fortes, dedicam-se apenas à guerra, à caça, à pesca e, quando muito, à musica e à dança. E entre as mulheres há verdadeiros tipos de beleza.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “Kamayuras, yualapitis, jurunas, trumais, galapalos, não importa... Entre eles os romances de amor têm os mesmos capítulos já conhecidos entre os brancos.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda à esquerda: “A paz armada é, entre os índios também, um meio seguro de evitar a guerra. Mas ninguém explora a indústria do material bélico. Cada guerreiro fabrica as próprias armas.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural<br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “Não há muito os ferozes suiás investiram contra a aldeia dos kamaiuras. Não lutavam pelas áreas de pesca, mas por outra causa frequentemente ambicionada nas selvas: as mulheres. E conta-se que em revide os jurunas, aliados dos kamaiuras, ocuparam uma aldeia suiá. E todas as crianças encontradas foram lançadas no fogo das malocas incendiadas.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural <br/> <br/> JEAN MANZON<br/> Legenda: “Mas a vida, em geral, é tranqüila, quase bucólica. E a expedição, comandada pelos irmãos Vilas Boas, procura integrar os antigos donos da terra na comunhão nacional. E com os índios à volta, hasteia-se pela primeira vez, nessa região, a bandeira da pátria.”<br/> in Manzon, 1950<br/> Acervo Cepar Cultural

Fundada por Assis Chateaubriand em 1928, a revista O Cruzeiro impulsionou o formato da fotorreportagem – gênero que mescla narrativas textuais e visuais – entre as publicações brasileiras, seguindo um fenômeno internacional, base do sucesso de revistas como Life, Look, Paris Match, Picture Post e Der Spriegel. A “época áurea” da revista foi entre 1944 e 1960, quando Freddy Chateaubriand, sobrinho de Assis, passou a dirigir a publicação, período que coincide com a introdução do conceito e da prática do fotojornalismo no Brasil.

Segundo o antropólogo Fernando de Tacca, a revista foi o “principal veículo de comunicação no qual o fotojornalismo assumiu novas faces de mediação dos fatos sociais” (2011:110), por transmitir em imagens impressas o imaginário de um país que, praticamente, só se conhecia pelas ondas de rádio.

Por meio das fotorreportagens, a revista possibilitou a participação do grande público no processo de “pacificação” de populações indígenas pelo Estado:

‘O Cruzeiro’ reativou o mito fundador da nação, encenou a aceitação da superioridade da cultura ocidental por parte dos povos indígenas e vislumbrou o futuro dos índios como alegres personagens da sociedade moderna industrial. (Burgi e Costa, 2012:43)

Jean Manzon foi o grande responsável pela formação de uma equipe de fotógrafos que, afinal, foram os pioneiros do fotojornalismo moderno no Brasil. Fotógrafo francês com grande experiência em revistas ilustradas, Manzon atuou nas revistas Vu e Paris Match antes de emigrar para o Brasil em agosto de 1940. Responsável pela organização do Setor de Fotografia do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo de Getúlio Vargas, Manzon tinha a função de produzir material para a divulgação da imagem do Brasil, no país e no exterior. Permaneceu no DIP até 1943, quando se transferiu para O Cruzeiro.

Suas primeiras reportagens seguiam o padrão tradicional da revista, submetendo suas fotografias à diagramação utilizada até então. Não tardou para que Manzon ditasse novos rumos para a imprensa da época. Segundo Helouise Costa, “é como se Jean Manzon tivesse esperado o momento certo para implantar uma fórmula há muito concebida: a das fotorreportagens de Paris Match” (Costa, 1998:141).

Durante seu período trabalhando para O Cruzeiro (1943-1951), Manzon produziu 346 fotorreportagens, impressas em 72% dos exemplares publicados ao longo de sua permanência na revista. Grande parte das matérias foram feitas em parceria com David Nasser, que se ocupava dos textos.

Helouise Costa separa sua vasta produção n’O Cruzeiro em quatro vertentes: política, personalidades, religião e realidade brasileira. Deste último tópico fazem parte as inúmeras fotorreportagens que ele publicou sobre índios brasileiros:

Embora esse tema tenha se tornado um forte filão, explorado por vários fotógrafos de O Cruzeiro ao longo das décadas de 1940 e 50, Jean Manzon é o pioneiro dessa ideia que se inicia com sua famosa reportagem intitulada “Enfrentando os chavantes!”. O sobrevôo de uma aldeia xavante, nunca antes contatada, permitiu a Manzon tirar fotos que iriam causar grande sensação, não só no Brasil como no exterior. (Costa, 1998:143)

Manzon passou a visitar com freqüência a terra dos Kalapalo, Kamaiurá e Xavante. Em suas imagens tudo aparenta ser cuidadosamente arquitetado. Com um teor sensacionalista, os personagens congelam-se em gestos significativos e a luz compõe o espaço de forma dramática: os personagens e os elementos da imagem preenchem a totalidade do quadro fotográfico, passando uma idéia de plenitude, de que as situações se completam em si mesmas. As imagens são destituídas de um caráter documental. Antes, revelam um momento ideal, que transcende uma situação específica e torna-se a cristalização de uma proposta.

Dessa forma, Jean Manzon deu concretude visual a um conjunto de idéias pré-concebidas sobre o Brasil, provenientes de várias fontes: o programa do Estado Novo, as diretrizes da arte de cunho social e as idéias engendradas no seio da intelectualidade modernista (Costa, 1998).

Em 1950, ainda em O Cruzeiro, Manzon publicou dois livros: Mergulhos na Aventura, em parceria com David Nasser, composto pelo material publicado na revista; e Flagrantes do Brasil (Ed. Bloch), onde apresenta uma compilação do seu acervo, composto por centenas de imagens preto-e-branco de temáticas diversas, criando uma narrativa de cunho nacionalista e integracionista. São fotografias de povos indígenas, habitantes do sertão, paisagens litorâneas e metropolitanas: uma sociedade múltipla, todavia integrada pela construção de um novo Estado brasileiro.

Neste último livro, algumas legendas revelam um caráter ideológico evidente: “Índios, brancos e negros – três raças fortes – construíram quatro séculos de história brasileira. Irmanados enfrentaram as florestas, ergueram cidades, irmanados vêm lutando…”

Em 1952, funda a Jean Manzon Produções, através da qual chegou a realizar cerca de 900 documentários, a maioria deles sobre o Brasil. Durante o período da ditadura militar, os documentários de Jean Manzon ficaram conhecidos pelos elogios exacerbados que faziam às realizações e obras do governo.

Em 1966 recebeu o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza, Itália, pelo filme documentário L’Amazone. Colaborou com a agência Magnum e atuou como diretor provisório da revista Paris Match de 1968 a 1972. Faleceu em São Paulo em 1990.

Seu acervo de 8300 negativos 6×6, do período de 1946 a 1990, bem como 752 documentários de sua autoria, encontra-se sob os cuidados da Cepar Cultural, em São Paulo.

_____________________________________________________________________________________

REFERÊNCIAS

BURGI, Sérgio; COSTA, Heloise (org.). As origens do fotojornalismo no Brasil: um olhar sobre O Cruzeiro. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012

COSTA, Helouise. “Palco de uma história desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon” em: Revista do Patrimônio, nº 27, 1998. Maria Inez Turazzi (org.). Brasília: IPHAN, 1998

– JABOR, Arnaldo & KAZ, Leonel. O Olho da Rua: o Brasil nas fotos de José Medeiros. Rio de Janeiro: Aprazível Edições, 2006.

MANZON, Jean. Flagrantes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Bloch, 1950

MANZON, Jean. Retrato vivo da grande aventura. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2006/2007

MANZON, Jean. Memórias do Brasil. São Paulo: Cepar Consultoria e Participações, 2007

MOURA, Ranielle Leal. “José Medeiros e o fotojornalismo na Revista O Cruzeiro”. 14º Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional (REGIOCOM), 2009.

TACCA, Fernando de. “O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio”. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011 (disponível aqui)

ACERVO

– CEPAR Cultural – São Paulo (http://www.acervojeanmanzon.com.br/)